Um dia minha mãe me contou que sua bisavó viera de Tânger, no Marrocos. Durante alguns anos, isso foi tudo o que soube. Um dia perguntei-lhe mais. E nesse mais, vieram tantas lembranças que um dia foi pouco. As histórias e tradições, contadas de forma acalorada, remeteram-me ao passado que mal conhecia. Remeteram-me também à infância, em Belém, onde passava as férias para reencontrar a família, lá estabelecida muitos anos antes. Ouvi as vozes das minhas bisavó Rachel e avó Anna, que misturavam o hakitia ao jargão informal, nos ensinando esse dialeto tão pouco conhecido e sempre nos pedindo segredo quanto ao significado das palavras. Senti o gosto da alboronia, prato com sabor adocicado que misturava frango e berinjela e me lembrei dos muitos sábados que fomos à esnoga (sinagoga). Hoje acendo as velas de shabat, conectando passado e futuro, através dos olhos infantis que me observam. Sei que eles ainda não entendem esses porquês, mas eu também não. No entanto, de alguma forma criamos laços com as tradições que correm em nossas veias. O hakitia se perdeu, mas toda a linguagem não verbal implícita naquele dia-a-dia ainda vive. E segue adiante, com o Serfaty.
Aline Serfaty
Todos os teus contos me emocionam.
Lindos!
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Fico feliz em saber que gosta!
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Que bonito! Sensível! Adoro as histórias de nossas origens, de nossas bases pimeiras, tão importantes em nossa formação! Feliz Pessach!
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Minhas origens mexem muito comigo. Sempre penso em como nossa família começou, por quais países passaram, o que viveram, suas dificuldades e alegrias. Tão interessante reflexão!
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Seus contos deixam sempre um sabor de quero mais!!!
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Gostei muito, mana. Lembro também do azeite que era levado para a sinagoga, do matza…
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