Eventualmente, perguntas chegavam ao seu celular acordando sua percepção do tempo, que antes nem parecia passar. E embora a excitação lhe despertasse a vontade de lhe contar o que acontecia em sua vida, percebeu-se imóvel. Paralisada entre o desejo e o amor – próprio. Tantas foram as vezes que lhe respondeu. E tantas que nada recebeu. Deu-se conta, então, que as perguntas eram hábito e não curiosidade. E as respostas, aparentemente interessantes, não lhe interessavam. Perguntava por perguntar e ela lhe respondia porque tentava manter o vínculo – e o brilho. Digladiavam-se: raso e profundo. E sem compreenderem-se, frustravam-se. 

 – Desista – disse-lhe uma amiga.

 – Não posso. Ainda não consigo – respondeu-lhe.

 – Nunca terás o que desejas. A profundidade é inata, não se fabrica – abraçou-a, confortando-a.

 – Mas quando estamos lado a lado, tudo parece diferente e intenso. Ilusão?

 – Sim. Abandone-a – disse-lhe. 

E assim, aquiesceu, e desistiu. Abandonou o sentimento, como se abandona a rua ao virar a esquina. Largou para trás o peso que já não conseguia mais sustentar. E seguiu, porque não poderia parar. Seguiu, sem pestanejar. 

Ainda sente saudades. Não das perguntas superficiais ao celular. Mas da história que criou e do final feliz que renunciou. De tudo o que nunca lhe contou. E da quimera que enterrou.

Aline Serfaty

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Revisado por Fabiana Serra 

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