Álcool.
O álcool lhe descia a garganta e chegava ao estômago, causando-lhe euforia. Seus goles, ininterruptos, logo davam comandos equívocos ao cérebro, que brindava outros minutos de prazer. Sentado no bar, de frente para a parede espelhada, observava seu reflexo entre um e outro pensamento perdido. As horas passavam e com elas, o discernimento. Seus amigos, aos poucos partiam, deixando seus acolhedores abraços, que apertavam o peito e esvaziavam a mesa. E ele lá permanecia, até o último gole. De prazer.
Mulheres.
Às mulheres, reservava o ego. Era com ele que enrijecia a alma e penetrava o vazio alheio, pobre, carente. Era volúvel. Incapaz de se fixar em um único par de pernas. Seduzia valendo-se do olho no olho, da conversa fiada e das primeiras juras de encantamento. Queria tudo o que a ele fosse permitido. Até a última gota de suor. Até a última gota. De prazer.
Intermitência.
Com o tempo, percebeu intermitência na felicidade. Ora sentia-se um trapo desconjuntado pela ressaca moral e física. Ora era o rei ovacionado por seus súditos imaginários que habitavam as arenas da vida. Alternava tristeza. E prazer.
Vazio.
Um dia, acordou mais triste do que o habitual. Pensou que seria temporário como das outras vezes. Mas não foi. Buscou razão para tanto desconforto, mas não encontrou. Buscou álcool para tanta razão, mas não bastou. Ansiava por um elixir que aplacasse seu desconforto e o retirasse da permanência. Mas só encontrou o vazio. Almejou compreender um pouco da sua dor. E o que lhe faltava: prazer.
Amiga.
Há poucos dias, foi visto conversando com uma amiga em um bar da cidade. Dizia ter finalmente aprendido a se relacionar com o álcool, mulheres e desafetos. Na mão, um copo com whisky. No corpo, trejeitos sedutores. E assim, munido com seu costumeiro arsenal, bradou suas conquistas pessoais. E confessou-lhe ao pé do ouvido: “quanto prazer!”
Aline Serfaty
facebook.com/contocurtasetcetera
Revisado por Fabiana Serra
Conto Curtas Etcétera 
Muito interessante. Parabéns. 🙂
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