Em busca de um tempo só, calcei o tênis e fui atrás do que tenho feito quase diariamente há anos – correr. A cidade lotada incomoda. É difícil dividir paraíso. Desvio dos carros, motos, pedestres e sigo na ciclovia. Penso em cheiro de mato para me esquecer do calor, mas tudo o que sinto é o odor acre que exala do asfalto nesta época do ano: uma mistura de cerveja dormida, vodka e sujeira.
A trilha sonora é variada e com ela, me lembro da faculdade. Coloco alto para abafar os ruídos provocados pela multidão. Viajo a passos largos para um mundo onde era feliz quase todos os dias. Onde a tristeza não tinha lugar. Onde estudo e diversão era tudo o que precisava dar conta.
No embalo da melodia, me lembro da minha melhor amiga e do quanto adoro sua companhia. Tenho saudades da época em que aprontávamos todas na faculdade. Penso em nossas conversas diárias, irmãs de alma que somos e agradeço por tê-la por perto, ainda que a 8.000 Km de distância.
As placas dos carros me distraem por alguns segundos. Percebo que quase nenhuma é daqui. Betim, São Bernardo, Queluz, tanta gente de longe.
Trinta minutos se foram. Volto com o vento na cara, refletindo e fazendo força para seguir adiante. Ao meu lado, um senhor nos seus setenta anos, pele queimada de sol, livre de aparatos modernos para medir ritmo ou ouvir música, corre mais rápido e me passa. Travo uma batalha interna entre ultrapassá-lo ou não, mas deixo pra lá. Escolho melhor minhas lutas.
Olho para trás e penso em 2018: houve mar calmo, mar agitado, e sobretudo compreensão e amor. Muito amor. E nessa retrospectiva calada, repleta de conversas internas, percebo que houve enorme crescimento pessoal. Li mais, muito mais. Ouvi inúmeros podcasts sobre pessoas e seus comportamentos e caminhei em direção a maior compreensão – de mim, dos outros.
Sigo humana: ainda com minhas migalhas de frustração, raiva, ciúme e inveja. Mas hoje, acolho cada parte de mim, do que sinto, de quem sou. Escuto mais porque gosto de ouvir os outros e suas histórias (e eventualmente, contá-las por aqui, neste blog). E assim, caminhando sempre para a frente, espero em 2019 ou quando terminar essa corrida, ser/ estar melhor.
Porque cada minuto conta.
Porque cada pessoa conta.
E porque a vida são experiências. Boas e más.
Peço que a balança desequilibre para onde o universo quiser me levar.
Confio.
E sigo nessa jornada maravilhosa chamada vida.
VIDA!
Aline Serfaty
facebook.com/contocurtasetcetera
Revisado por Fabiana Serra
Que lindo presente seu conto… Estou em batalhas internas, brigando entre meu bem e meu mal, buscando umas corridas dessas… Preciso introverter para atingir compreensão… O mundo de fora está rápido demais e a corrida tem que ser pra dentro. Correr para encontrar a si mesmo não seria um lindo contras-senso? Beijo, enorme beijo, Feliz 2019! Obrigado pela reflexão!
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É exatamente deste contrassenso que a humanidade está precisando. Que corra, introverta-se e compreenda-se! Feliz 2019!! Bjs
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Muito bacana, Aline! Parabéns!
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Obrigada, querido “Alguém”!!
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Sou sua grande fã. Teus contos sempre me comovem. São lindos,
escritos com a alma.
Um lindo ano !
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Muito obrigada. É muito bom poder tocar o coração das pessoas com palavras. Feliz ano novo!
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Com a sensibilidade de sempre. Não sei como consegues ser protagonista em todas tuas atividades: esposa, mãe, radiologista, esportista e escritora, essa que mais me toca, pela criatividade e tópicos sempre interessantes e agradáveis de ler. És uma mulher completa e, agora, madura e realizada.
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Ahhhh, querido! Que maravilhoso ler isso! Não consigo ser protagonista sempre, acredite. Tento, apenas tento. E escrever faz parte do processo “terapêutico”. Faz bem à alma! Obrigada pelas lindas palavras! Bjs
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Querida Aline li seu texto dias atrás e me identifiquei muito, em cada palavra sua fui mergulhando e me encontrando com algo que eu sempre fiz e amo… correr, remar… são atividades meditativas que as vezes nos levam a uma enorme clareza de quem somos e como nos encaixamos no mundo que nos rodeia. Simplesmente lindo, admiro muito você ! Sempre te disse isso , um Feliz 2019 ! Que Deus te abençoe sempre.
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Que legal te ver por aqui, Claudinha! Fico feliz que tenha gostado. Tão importante entrarmos em contato com quem somos. Tão importante nos acolhermos, na dor e na alegria. Percebo que muitas pessoas desconhecem ou não percebem o quanto podem ser melhores amigos de si próprio. Um 2019 maravilhoso para você e sua família!
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Que tocante! Que bonito texto, Aline! Já estava com saudades de te encontrar neles, sempre calorosa, engajada com a vida, nada parece ser trivial; tudo tem sentido, tudo fala e quase exige posição. Muito axé, muita paz, muita alegria para você e a família linda.
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Querida, que lindo! Me tocou profundamente porque estar engajada, não ser trivial e exigir posição são questões totalmente alinhadas com quem sou, com o que penso. Você percebeu minha alma através das minhas palavras. Muito obrigada! Bjs
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É muito bom te ler. Faz-me bem pra corpo e alma.
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Que bom que minhas palavras alcançam tua alma e te fazem bem. Obrigada por passear por aqui.
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Oi o seu blog e muito legal te desejo muito sucesso, http://www.plasmeidan.wordpress@gmail.com
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