
Dez.
Dez idas e vindas.
Dez chegadas e partidas.
E entre aterrissagens e decolagens,
verões e invernos, anos e mudanças.
Chegar
eram infinitas expectativas.
Voltar
era frustração.
Era o nada concretizado,
o vazio revelado,
exposto,
sangrando,
doído.
Chegar ou partir mexia.
Trazia outono e céu cinzento.
Desalinhavava costuras mentais,
tão cuidadosamente amarradas.
Resgatava o adeus,
o oco.
Sufocava o alívio.
Expunha decepção,
e sublinhava realidade.
Colocava o pretérito na caixa do ontem.
E a aceitação no presente.
Ir era reforçar a ilusão de um vínculo
forte, profundo, intenso.
Partir era questionar essa ilusão.
Diante do nada recebido,
colocar à prova a certeza de que era especial, singular
Entre idas e vindas foi triste,
doloroso,
difícil.
Mas também revelador.
O tempo passou.
Transformou protagonista em coadjuvante,
multiplicou o que antes era único.
Uma única atração,
hoje, infinitas possibilidades.
Entre dez idas e vindas.
Aline Serfaty
Revisado por Fabiana Serra
A distância maltrata, corta, interrompe, não deixa fortalecer. E a gente vai cansando, cedendo para outros olhares.
Parabéns pelo texto, Aline, minha amada irmã.
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Interessante pensar… sentir… falar!
Milhões de vezes iremos e voltaremos. Em cada uma delas, seremos outros.
É assustador tentar entender isso.
Caio
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