Agosto – está oficialmente aberta a temporada de carência. Percebo dentro de mim uma angústia. Uma necessidade enorme do outro. Uma necessidade enorme de dois. Um não é pouco. É nada. E enquanto corro para acelerar cada fibra dentro de mim, tento exorcizar esses pensamentos. Esses sentimentos. Em vão. Faz parte de quem sou. Não do meu eu constante, mas do eu sazonal. Daquele eu que briga pra não existir, que se esconde, que dorme tarde mastigando ideias aparentemente desconexas e que acorda cedo para correr. Correr e acelerar tudo de novo, em um ciclo de vício e desprazer que teima em persistir. Consulto minha consciência e ela me diz que isso faz parte da vida. Consulto minha amiga que me diz para colocar uma música e fumar um cigarro. Escrevo, trabalho, mas não acendo um incenso. Não sinto cheiro ou gosto. Os sentidos básicos estão apagados pelo desassossego da alma. Tudo que percebo é essa solidão que não sai de mim. Que me impulsiona para o outro no afã de encontrar companhia. Meu interior não me sacia. Continuo minha caminhada pesada. Pesarosa. Relembro-me que o aprendizado vem do desconforto. Que o enriquecimento da alma que carrego precisa disso. Desses altos e baixos. Corro de novo e no caminho entrego meu eu demandante ao vento. Me liberto dessas amarras. Até a próxima temporada.
Aline Serfaty
Agosto adorei. Uma necessidade enorme do dois . Um não é pouco; é nada
Keep on going
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Aline, nao gostei só nao, gostei muito, demais… Como gosto dessas frases curtas, mas (pro)fundas como os sentimentos que expressam! Adorei seu estilo, essa força que vem do simples, que precisa de pouco para dizer muito.
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Forte e intenso, mas simples. Assim são as sensações e emoções mais difíceis de entender, e assim é o seu texto. Lindo e eficaz! E que bom que estamos quase em outubro….
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