Entretido neste jogo que mal compreendo, observo-te. Sei que despercebes-me. Não notas os sulcos que me marcam. Não vês o viço que me falta e a pele que me sobra. Sabes a minha idade, pois sou o mais velho da família. Mas ainda não entendes o que a soma de cada ano acrescentou-me. Esforço-me para te ouvir, mas o que me resta são as tônicas da tua fala. Esforça-te para ouvir-me. Assim, conhecerás as histórias que hoje te pertecem e que carregarás contigo por aí. Venha, deixe que te afague. Empreste-me estes lisos fios de cabelo. Quero senti-los entre meus dedos. Deixe que entre contigo neste carro do jogo. Fujamos para longe daqui. Quero roubar-te a juventude e transcender o tempo. Mesmo que por um instante.
Aline Serfaty
A força do texto chega a provocar angústia… Excelente!
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É o ciclo da vida, muito bem contado por você.
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Maravilhosa a percepção e a sensibilidade..Belíssimo texto!!!
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