Tenho sete anos. Hoje é dia de festa e preciso vestir a roupa diferente, vermelha e quente. Sobre minha cabeça, minha mãe colocou uma pequena cesta de flores amarelas, que recolhemos ontem no jardim. Belas, mas incômodas. A cidade está repleta. Percebo que as pessoas me olham e até fotos tiram de mim. Acho que pensam que sou tímida. Mal sabem o quanto já vivi. A verdade é que tenho muitos anos em um corpo de sete. Sou acostumada à quietude, à observação. Olhei para trás e o menino barulhento e irrequieto não me escapou. Parece engraçado. Suas roupas, não vermelhas, movimentam-se sem parar, como marionetes. Sua idade aparenta ser a mesma do seu corpo. Por um instante, quero ter sete anos, mas preciso seguir a procissão. E não olhar mais para trás.
Aline Serfaty
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Revisado por Fabiana Serra
Que delicadeza, Aline! E força dessa menina! Linda escrita!
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Sim, Cecilia! Que força! Mas não só dela. Poderíamos ser essa menina, com sete ou setecentos anos. Assim como ela, provavelmente, também precisamos usar fardos, ou olhar para trás e ver que outras crianças brincavam, enquanto nos restava apenas “seguir a procissão”. Bjs
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Lindo e sensível!
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Enviado do meu iPhone
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