
O vento frio ocupava o píer cortando nossos casacos e alcançando ferozmente a pele.
As pequenas ondas que se formavam davam vida à paisagem estática.
Sentamos juntos e enquanto o silêncio foi desconforto, o olhar no horizonte e o vai e vem das pernas nos distraiu.
Sorte tê-la aqui, pensei. Vi a ponte, contei os barcos, mas não contei a ela a que vim.
Minha conversa interna, tantas vezes ensaiada, esvaiu-se. Junto com ela, senti o sangue fugir e me deixar só, pálido, rogando coragem.
Dentro de mim, um redemoinho de emoções cresce, toma conta e me afoga. Até que as palavras voam em sua direção: “casa comigo?”
Mas ela nada disse.
Não de imediato.
Parecia pensar, medir.
Ensaiou, desistiu. Murmurou.
Até que sorriu e pausadamente disse: “não”.
Aline Serfaty
facebook.com/contocurtasetcetera
Revisado por Fabiana Serra
Incrível o seu senso de amor, de paixão, de peso e de medida. Matematicamente engendrado, o conto nos captura pela economia de palavras e o comedimento de sentimentos, que não lhe tiram a volúpia e a apreensão pelo desfecho. Sempre surpreendente, minha contista favorita!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Amo tuas descrições do que escrevo. Se por um lado te encanto, também me encantas! Bjs!!
CurtirCurtir
Ele se arriscou, apesar de prever o resultado. Sentimentos embaralhados e notadamente assimétricos. Foi corajoso.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Gosto dessa coragem, hoje pouco vista. Gosto de quem se arrisca, de quem enfrenta. Tantos por aí que fogem, escondem-se para não ouvir o tão difícil “não”. Por outro lado, perdem a chance de ouvir o “sim”.
CurtirCurtir
Adorei o desfecho. Duro, mas verdadeiro para sorte de ambos.
CurtirCurtir
Nada mais amargo que a desilusão…
CurtirCurtido por 1 pessoa