E agora, o que faço pra ficar bem? Se, pelo menos, soubesse rezar. Se conseguisse dormir. Se pudesse sonhar. Olho a hora que passa. Tempo perdido. Depois desse turbulento ano, só queria paz no próximo. A tristeza cega minha capacidade de análise. Não tenho respostas para os meus porquês. Não me sinto livre para pensar, agir, escolher. Vem uma vontade enorme de desbravar. Mas o que, agora? Falo como uma velha e vocês mal sabem a minha idade. Ficariam surpresos. Quero sair por aí e fazer pequenas loucuras, beber em excesso, brindar deixando o vinho derramar. Quero descer montanhas de neve, sentir o vento, deslizar e deixar o coração acelerar. E quero ter você ao meu lado. Quero ver seu sorriso de novo. Seu mais genuíno sorriso. E quero te oferecer o meu. Quero ser essa maluca adolescente com você. Mas não sou compreendida. Estou ao seu lado. Mas não sou percebida. Te escuto. Te falo. Mas as palavras não se abraçam. São desconhecidas. Não quero esse amor que prende. Que captura e culpa. Por ora, sigo sem sono e sem sonhos. Até quando? Se, pelo menos, soubesse rezar.
Aline Serfaty