Guardaram seus celulares e saíram. Dobraram a segunda esquina, em direção à praça central e entraram na pequena loja de lanches rápidos. Em pé, no balcão, pediram um refrigerante, um mate e hambúrgueres de frango, enquanto conversavam sobre o final de semana. Desinteressados do entorno, não repararam na atendente que lhes falava, preparava a comida e manuseava o dinheiro do caixa. Sentaram-se em uma mesa próximo à rua, assegurando-se de que teriam para onde mirar no desconforto do silêncio e começaram a mastigar. A carne e os pensamentos. Pesando as palavras, que inicialmente suaves, ganhavam, gradativamente, ritmo e eloquência, preenchendo o ambiente. Para ele, a angústia que deveria amenizar-se, aumentava, inexplicavelmente. Contou-lhe, então, que não mais poderia sustentar a relação há poucos meses iniciada. Não porque não houvesse mais sentimentos entre os dois, afinal, divertiam-se e trocavam intimidades. Intensamente, desejavam-se. No entanto, era justamente do desejo alheio que seus medos originavam-se. De onde suas inseguranças emergiam. Queria permanecer indesejável, pois parecia-lhe feio ao próprio espelho. Disforme. Ainda assim, em um rompante de loucura, aceitou outra pessoa em sua vida. Outra metade. E agora dizia-lhe que terminaria tudo. Para defender-se. Esconder-se. Novamente só, poderia exercer seu eu infantil e relacionar-se superficialmente com seus afetos. Tomou um gole de mate que amargara-lhe a boca e continuou desfolhando suas incertezas, até a última gota.
Olharam para os transeuntes, calados.
De frente para ele, tentou responder, titubeou, mas optou por calar-se, renunciando ao turbilhão de pensamentos que lhe tomara conta da mente e dos olhos, carregando-os.
Levantaram-se, arrumando suas cadeiras. Sem palavras, seguiram de volta para casa, contando, mentalmente, os quarteirões. Ainda precisou subir para pegar algumas roupas que ficaram pelo sofá da sala. Juntos, naquele apartamento, desejaram-se novamente. E sucumbiram. Transbordando lascívia, entregaram-se vigorosamente àquela última oportunidade e ainda com seus sentidos ebulindo, despediram-se, trocando olhares que não olham. Que não enxergam. Conquistaram novamente a solidão de seus corpos.
Dentro daquele pequeno apartamento, ele sentiu-se inteiro de novo. Pegou o livro da cabeceira e abriu na primeira página.
De costas para ele, fechou a porta do elevador e suspirou. Foi embora e parou na cafeteria mais próxima. Desejou um expresso. Um último digestivo.
Aline Serfaty