Um quarto escuro. Àquela hora, apenas a luz do abajur dava à luz seus pensamentos. Lia, mas não entendia. Inquieta, revirava-se na cama. O tempo, impiedoso, passava. Sentia-se presa, refém de um sentimento perdido. Escondido. Que teimava em atordoá-la, lembrando-lhe que poderia ser livre. Louca. Pensar no passado trazia cor à escuridão do quarto. Nostalgia.
Um quarto escuro. De olhos fechados, ele rememorava o dia em que se encontraram acidentalmente na rua central de uma pequena cidade, onde não moravam. Ainda se lembrava da música que tocava alta no bar da esquina e do que sentiu quando a viu. Adormeceu.
Decidiu que queria vê-lo, tocá-lo, senti-lo de novo. Daria voz ao desejo calado e sentiria novamente seu corpo. O cheiro do mar em seu cabelo. Levantou-se. Vestiu-se. Pronta, dirigiu. Olhou a porta de frente e com um suspiro preso, bateu. Respirou fundo, entrou e o olhou fixamente. Atiraram-se, com os corações acelerados, a pele suada. Trocaram poucas palavras, como sempre fora. Ali passaram a noite toda. Tão intenso era o toque que marcava a pele. Foi embora transbordando alegria e angústia. Foi-se com o desconforto dos apaixonados. Carregando em si, um desejo sem fim.
Um quarto escuro. Sentia que continuava presa. Seus desejos, embora realizados, continuariam escondidos. Não poderia ser louca se estava cercada de sãos. Poderia inquietar-se, revirar-se, mas ainda não mostraria quem realmente é. O que realmente quer. Ouviu, de longe o sussurrar daquela música, que tocava alta no bar da esquina. A mesma. Quis ser louca de novo. Adormeceu.
Aline Serfaty