Do outro lado, a vi sentada no meio-fio, em meio à sujeira dessas ruas mal lavadas. Acendeu um cigarro e deu a primeira tragada. Observava-a há poucos minutos, no bar em que estávamos, quando subitamente levantou-se. Segui seus movimentos e agora sigo seu olhar e a fumaça que sai da sua boca.
Quero falar à desconhecida uma prosa rápida. Mulher sozinha, à noite, é muito sedutor. Olho ao redor para assegurar-me de que a rua é nossa. Ao seu lado, apenas uma bolsa, intimamente posicionada. Deixo as incertezas onde estou e resolvo atravessar. Antes, paro em um ângulo perfeito e aperto rapidamente o botão que salva este segundo. Entre nós, ainda não há palavras, apenas a privacidade roubada.
Olhos nos olhos, ela me dá um cigarro. Sento ao seu lado e compartilho nossa solidão. Sem prosa e sem nome.
Aline Serfaty
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Revisado por Fabiana Serra
Incrível! O tempo sôfrego, rápido, do conto e o tempo de quem tem muito tempo, da vida. Muito legal, Aline!
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