Continuo pensando em tudo. Incessantemente.
Sempre me entreguei. Sempre tive tão pouco em troca. Muitas vezes acreditei ter o bastante. Não sei se você transparecia isso de alguma forma sutil ou se realmente inventei tudo porque precisava acreditar. Mas, em momentos como agora, me dou conta de que, na realidade, não tenho nada. Ou tenho apenas o sexo, que fazemos num cubículo, que mais parece um cativeiro dentro do qual cultivo minha síndrome de Estocolmo. Sexo vazio, sexo transbordante de tesão, sexo cheio da minha fantasia de ser mais desejada do que a mulher que te tem, que não precisa pedir permissão para te beijar, que pode deitar ao seu lado sem medo do tempo, que nessas horas parece pausar para nos observar. Só de sentir o seu cheiro minha alma pede para sair do meu corpo e invadir o seu. Como queria poder te falar isso sem medo de perder o pouco de você que ainda tenho. Já me perdi de mim e não sei se consigo perder algo mais.
– “Senhora, pode entrar”.
A vida continua. Chegou a minha vez de ser atendida.
Anna Rubi