
Minha querida,
Cá estou pensando em ti novamente. Sabes que não sou “das palavras”, mas por ora não encontro outro meio de me ouvir se não por esta carta. Ainda não sei se um dia chegarás a lê-la. Pretendo reunir cada lampejo de coragem que me invadir para quem sabe, entregar-te. Como também não sei se haverá lampejos suficientes, deixo em suspense, assim como ficou tudo o que vivemos.
Tens ideia do que fui capaz para te esquecer? Enterrei tudo o que sentia a sete palmos do chão junto com a memória dos nossos intermináveis e deliciosos diálogos. Disse a mim mesmo que este sentimento vil, desregrado, intenso jamais me encontraria novamente. E assim, meu corpo paralisado, seco e frio tornou-se disponível para outras mulheres. Tudo ficou mais fácil por um tempo. Vivi de forma simples, com o batimento ritmado, que me trouxe alegria fugaz. Dividi por esses cantos minha cama e parte do meu afeto. Mas não minhas angústias. Estas, extravaso em doses homeopáticas nos parágrafos que se seguem com a intenção de me desfazer desta lava dura que me tomou por dentro.
Confesso-te que não imaginava encontrar novamente alguém capaz de esquentar meu âmago. Sabes que não me refiro apenas ao sexo ardente, ininterrupto, queimando nossas peles. Mas também às interações verbais, acolhedoras, compreensivas, com sorriso gostoso espelhado. Olhar em teus olhos era mergulhar em um mundo complexo e intenso, que inevitavelmente ecoava no meu.
Nestes últimos meses, segui à risca o manual de como dar andamento às filas da vida. Em vão. A fila não andou. Permaneceu estática em um tempo no qual tudo o que via trazia a assinatura do teu eu, ressuscitando em mim o desejo de te ver – e te ter.
Hoje, oficialmente declaro que parei de lutar. Sei que deixei parte da minha essência contigo. E que carrego parte da tua comigo. Até aqui circulei em um labirinto torto, rodando entre muros altos, impedido de enxergar além. E nessa maratona sem ganhadores, esgotei diariamente minhas energias a pensar em ti.
Teu cheiro, teu toque, tuas histórias, todos presos nesta lava dura que não me deixa. E eu aqui, gritando calado pelo teu calor. Para derreter. E renascer.
Com amor,
Teu querido
Aline Serfaty
facebook.com/contocurtasetcetera
Revisado por Fabiana Serra
Muito bom, Aline. Texto forte e profundo. Parabéns!
CurtirCurtir
Obrigada, Pedro! Cartas sempre me inspiram! Bjs
CurtirCurtir
Como sempre – ótimo e criativo. Falar de sentimentos é difícil. Não é palpável e é muito pessoal. Mas esse tema de sentirmos “abandonado “ à própria sorte é universal, qdo um não está em sintonia com o sentimento do outro. Ou, talvez, o outro esteja sentindo o mesmo, foi um equívoco, um mal entender, ou … Mas encontrar outro é muito difícil. Geralmente os 1os nos marcam bem mais, pois não temos as barreiras q aparecem com o tempo. Adoro teus textinhos. Bjs , e vamo q vamo ao próximo.❤️
CurtirCurtir
Como sempre – ótimo e criativo. Falar de sentimentos é difícil. Não é palpável e é muito pessoal. Mas esse tema de sentirmos “abandonado “ à própria sorte é universal, qdo um não está em sintonia com o sentimento do outro. Ou, talvez, o outro esteja sentindo o mesmo, foi um equívoco, um mal entender, ou … Mas encontrar outro é muito difícil. Geralmente os 1os nos marcam bem mais, pois não temos as barreiras q aparecem com o tempo. Adoro teus textinhos. Bjs , e vamo q vamo ao próximo.❤️
CurtirCurtir
Verdade, Paulinho! Essa não sincronia da vida pode ser dura muitas vezes. Bjs, querido!
CurtirCurtir
Acho q uma paixão/relação dessa a gente só tem uma vez na vida. Resta uma eterna procura de alguém q nos faça sentir o mesmo. 👏🏽👏🏽👏🏽
CurtirCurtido por 1 pessoa
Ainda não sei se só uma vez na vida, mas sem dúvida, pouquíssimas pessoas nos são especiais…
CurtirCurtir
Simplesmente maravilhoso! Viajei nessa carta.
CurtirCurtir
Adoro escrever cartas, você sabe! E adorava recebê-las quando era criança também. Lembra-se de quando me escrevia e deixava literalmente um beijo com batom no papel?
CurtirCurtir