A Carta

Romeu e Julieta no Central Park – New York City

Minha querida,

Cá estou pensando em ti novamente. Sabes que não sou “das palavras”, mas por ora não encontro outro meio de me ouvir se não por esta carta. Ainda não sei se um dia chegarás a lê-la. Pretendo reunir cada lampejo de coragem que me invadir para quem sabe, entregar-te. Como também não sei se haverá lampejos suficientes, deixo em suspense, assim como ficou tudo o que vivemos.

Tens ideia do que fui capaz para te esquecer? Enterrei tudo o que sentia a sete palmos do chão junto com a memória dos nossos intermináveis e deliciosos diálogos. Disse a mim mesmo que este sentimento vil, desregrado, intenso jamais me encontraria novamente. E assim, meu corpo paralisado, seco e frio tornou-se disponível para outras mulheres. Tudo ficou mais fácil por um tempo. Vivi de forma simples, com o batimento ritmado, que me trouxe alegria fugaz. Dividi por esses cantos minha cama e parte do meu afeto. Mas não minhas angústias. Estas, extravaso em doses homeopáticas nos parágrafos que se seguem com a intenção de me desfazer desta lava dura que me tomou por dentro.

Confesso-te que não imaginava encontrar novamente alguém capaz de esquentar meu âmago. Sabes que não me refiro apenas ao sexo ardente, ininterrupto, queimando nossas peles. Mas também às interações verbais, acolhedoras, compreensivas, com sorriso gostoso espelhado. Olhar em teus olhos era mergulhar em um mundo complexo e intenso, que inevitavelmente ecoava no meu.

Nestes últimos meses, segui à risca o manual de como dar andamento às filas da vida. Em vão. A fila não andou. Permaneceu estática em um tempo no qual tudo o que via trazia a assinatura do teu eu, ressuscitando em mim o desejo de te ver – e te ter.

Hoje, oficialmente declaro que parei de lutar. Sei que deixei parte da minha essência contigo. E que carrego parte da tua comigo. Até aqui circulei em um labirinto torto, rodando entre muros altos, impedido de enxergar além. E nessa maratona sem ganhadores, esgotei diariamente minhas energias a pensar em ti.

Teu cheiro, teu toque, tuas histórias, todos presos nesta lava dura que não me deixa. E eu aqui, gritando calado pelo teu calor. Para derreter. E renascer. 

Com amor,

Teu querido 

Aline Serfaty

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Revisado por Fabiana Serra 

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9 comentários sobre “A Carta

      1. Como sempre – ótimo e criativo. Falar de sentimentos é difícil. Não é palpável e é muito pessoal. Mas esse tema de sentirmos “abandonado “ à própria sorte é universal, qdo um não está em sintonia com o sentimento do outro. Ou, talvez, o outro esteja sentindo o mesmo, foi um equívoco, um mal entender, ou … Mas encontrar outro é muito difícil. Geralmente os 1os nos marcam bem mais, pois não temos as barreiras q aparecem com o tempo. Adoro teus textinhos. Bjs , e vamo q vamo ao próximo.❤️

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      2. Como sempre – ótimo e criativo. Falar de sentimentos é difícil. Não é palpável e é muito pessoal. Mas esse tema de sentirmos “abandonado “ à própria sorte é universal, qdo um não está em sintonia com o sentimento do outro. Ou, talvez, o outro esteja sentindo o mesmo, foi um equívoco, um mal entender, ou … Mas encontrar outro é muito difícil. Geralmente os 1os nos marcam bem mais, pois não temos as barreiras q aparecem com o tempo. Adoro teus textinhos. Bjs , e vamo q vamo ao próximo.❤️

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