Confesso que demorei demais para dormir. Minha cabeça estava no Rio de Janeiro. A cena do assassinato da mulher pelo ex-marido em frente às filhas e o grito das meninas transformaram-se em uma dor surda, um desconforto, uma revolta. E a esta dor, juntaram-se outros assassinatos de mulheres em Promissão-SP e em Jaraguá do Sul-SC – na mesma noite – a de Natal.
Perdida em meio à insônia e à revolta, uso minhas armas: as palavras. E escrevo aqui com o objetivo de amenizar a dor surda que se abrigou. O machismo é deletério, machuca a alma, mata o corpo. Não mataram por amor. Não existe nada parecido com o que entendo como amor nestes cenários. Existe descontrole. Existem advogados e juízes que, eventualmente, normalizam esses assassinatos fazendo valer a “legítima defesa da honra” como argumento para inocentar homens que matam. Honra? Não… Enquanto a sociedade julgar a vítima e vitimizar o algoz, a narrativa da “legítima defesa da honra” encontrará eco.
Viro para o lado, mexo meu corpo, fecho os olhos, mas não encontro rima. Penso em Ângela Diniz e no “Praia dos Ossos”, podcast sensacional que revisita sua história a fim de trazer à tona temas tão necessários quanto “feminismo” e “feminicídio”. Penso no próximo episódio do podcast que gravei recentemente com o psiquiatra Sivan Mauer, o “Conversa de Médico” para o Medscape, no qual sublinhamos o aumento dos casos de violência doméstica durante a pandemia. Penso nas inúmeras mulheres que traçam lutas diárias para simplesmente existir. E sinto queimar a pele e arder a alma ao pensar na mistura de alta combustão determinada pelo isolamento social e pelo alcoolismo, tão presente nas mais diversas classes sociais.
E por fim, enquanto ainda percebo o fervilhar da minha inquietude, penso nos meus filhos e na obrigação que me coloco de criar pessoas que entendam e respeitem outros seres humanos. Que saibam acolher em vez de julgar. E que possam junto comigo, entrar nessa luta por outras mulheres. Uma luta de amor e empatia.
Aline Serfaty
Revisado por Fabiana Serra
Fui dormir ontem com essa mesma inquietude indigesta, com a sensação de impotência diante da tragédia que marca nosso cotidiano. Que sociedade é essa?! Você traz uma chave: a imensa responsabilidade social, pedagógica, que temos mães, pais, a família, professoras e professores, governantes, de colocar esse tema na pauta cotidiana também. Freud explica? A mulher ou é santa ou puta? Elogio ou chicote nela? Muito triste, muito revoltada.
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Aline senti a mesma coisa ! Fui dormir com um choro engasgado , o peito apertado , uma dor profunda , pensando nas minhas filhas , nas minhas netas .
Ninguém está livre de ter um psicopata ao seu lado !
E pergunto : até quando ? Essa cultura de plena defesa da honra irá prevalecer em nosso país!
Nós brasileiros e brasileiras temos levantar a nossa voz enquanto é tempo !!!
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Crime bárbaro e premeditado. Arma branca à espera da vítima. Nem os gritos de desespero de 3 meninas contiveram o ódio desse monstro. Qual vai ser a desculpa dessa vez? Era maluco? Tomava remédio? Matou por amor? Baixa autoestima? Sei lá. O fato é que ele tirou a vida de uma mulher por pura crueldade. E isso precisa acabar. Já passou dos limites há muito tempo.
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Crime terrível!! Tbm fiquei arrasada!! As filhas presenciaram esta barbaridade! Em breve este monstro estará livre!! Precisamos de mudanças urgentes ou não sabemos mais como viver nesta sociedade!!
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Aline, apenas hoje conheci seu blog. Sou amiga de sua irmã, há muitos anos e é com enorme prazer que te leio. Prazer pelo reconhecimento, pelo seu texto, mas a verdade é que sinto a mesma dor, a mesma inquietude.
Ouvi praia dos Ossos de uma vez só. Era muito jovem quando o crime aconteceu, mas lembro do primeiro julgamento.
Precisamos estar juntas e cobrar justiça. Se a Juíza Viviane passou por isso quantas outras mulheres, mais desprotegidas passam, não é?
Um prazer conhecer sua página. 💛
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Obrigada por compartilhar o que sente. Somente juntas e unidas poderemos vislumbrar mudanças. Que bom que conheceu o blog. Espero que por aqui se perca mais vezes ❤️Feliz Ano Novo!!
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